Eda De Maman

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Local: Porto Alegre, Brazil

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Tempo de colheita

.

E eis que no galho mais alto da macieira
encontrei meu fruto do desejo
Tão perto e tão distante
quase que inatingível...

Observo-o
Contemplativa
estabelecendo estratégias
vislumbrando momentos
sonhando acordada

Também eu encontro-me no alto,
no galho do sol...
penso eu

Os tolos não me enxergam
Os preguiçosos não me alcançam
Os de pouca inteligência só me ferem
Mas és sábio, e saberás como chegar

E saberás sorver meu néctar delicadamente com teus lábios suaves
E saberás o momento certo de colher o fruto
E será em tuas mãos que entregarei minha estrela
Para ser degustada vagarosamente,
até a exaustão
...

Não procure-me em outras frutas
direi, então...
Pois ao ser assim devorada,
a partir deste momento, farei parte de teu corpo
Serei então a energia que lhe dará movimento
a batida do teu coração
teu calor
teu sono
teu sonho
teu refúgio
tua mais doce lembrança...




Eda De Maman

terça-feira, 16 de maio de 2017

Encontro

Silêncios prolongados

ausência sentida no coração

apertos

espasmos

confusão...


Sentimentos

dor

doces lembranças

saudades...


Enquanto o amor não acampa

os amantes se estudam

se olham

se medem...


E esse jogo todo,

inconstante e tresloucado

só me ensina uma coisa:

Amar é complicado


Eda De Maman

Cala-te

.
Cala-te, coração
Cala-te, impaciente
Que projeta no improvável os teus tesouros

Cala-te!
Que ainda não é chegado o momento
de bater assim
descompassado...


Eda De Maman

terça-feira, 9 de maio de 2017

O vôo da águia

Estavámos eu mais uma amiga conversando sobre a evolução do pensamento feminino, não a evolução histórica, com suas revoluções e o advento do feminisno, mas aquela evolução individual pela qual todas nós , mulheres, passamos no decorrer da vida.

Explicava-me minha amiga que gostaria de me ver escrevendo sobre uma águia, voando acima do horizonte, senhora de seu destino, de seus desejos e de seu caminho.

Imaginava, essa querida amiga, que o caminho que trilharei me levará a este vôo pleno.

O engraçado foi que começamos a conversar sobre meu estilo de ser, o qual procuro retratar em palavras. Analisando meu caminho sob este ponto de vista, posso dizer que tive alguma evolução. Lembro de ter-me comparado a uma pequena e colorida borboleta, ainda em maio passado; a seguir foi a vez de um beija-flor.
Se continuar assim talvez eu realmente chegue à águia em pouco tempo.

Só que minha águia seria fajuta. Uma águia que gosta de voar alto, mas que procura não uma vítima, mas uma companhia para a viagem de sua vida. Uma águia que não destroça sua presa, mas sim a mantém por perto: amada e em segurança.

O vôo da águia me fez perceber que existem outras possibilidades para encarar o papel feminino, mas o que faria eu com minhas verdades? Com minhas crenças? Como seria eu capaz de romper paradigmas que me foram passados desde a meninice? De jogar fora minha herança de boa menina? De virar a mesa e iniciar  uma nova partida, desta vez sem fragilidades, sem carências? Teria eu a coragem necessária para mudar? Seria mais feliz encarando a vida desta forma?
Não consigo enxergar-me assim, uma predadora, uma mulher capaz de agarrar sua presa. Nada tenho em comum com a águia, penso eu...a não ser o desejo de ver o céu, de sentir o vento no rosto e assim perceber que Há vida!

Mas prometo, amiga querida, que ao menos pensarei a respeito!

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Sempre quis ser um poema



Sempre quis ser um poema
um punhadinho de palavras
para ser lida
contemplada
decifrada

Sempre quis ser um poema
para ser carregada nos lábios
ou no pensamento
que ficasse ali
ao vento
ou se perdesse bem lá dentro

Sempre quis ser um poema
para não morrer
para renascer todo dia
viver escondida na memória...

Sempre quis ser um poema
um poema de amor
sem decor
que revirasse lençois
e te enchesse de pudor
e que ofuscasse os raios do sol

Sempre quis ser um poema
para poemar 
e amar
...

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domingo, 21 de agosto de 2016

Quando vou de carro não escuto o canto do Bem-te-vi

 Passa do meio-dia e o sol generosamente nos presenteia com seus raios luminosos. A garagem está escura e silenciosa, e guarda no canto esquerdo meu tesouro: minha bicicleta novinha. Coloco meu capacete que parece uma joaninha, desço pela rampa e sou recebida pelo porteiro com um caloroso boa tarde. Quando vou de carro não passa de aceno cordial; talvez o fato de me locomover de bicicleta faça com que eu me aproxime de todas as pessoas, tornando-me assim mais acessível, mais visível, mais igual.

Saio pelo portão e o vento balança meus cabelos. Nada se iguala a esta sensação de liberdade: ganhar a rua sem escudos, sem vidros, sem quase nada que me impeça de sentir o que me rodeia.
A Ipiranga está logo ali abaixo. Pedalo com força para vencer a pequena elevação e logo a descida me leva até suas margens.

Nos primeiros quilômetros quase nada me atrai, talvez a presença ameaçadora dos carros à minha volta me faça não ter olhos à beleza, ao diferente. Já na esquina com o ginásio da brigada, a rua ganha cor. Passo para a ciclovia e a paisagem se abre à minha frente. Observo o semblante dos motoristas que passam... engraçado como a maioria aparenta irritação, impaciência e um olhar perdido. Nenhum deles tem tempo para perceber como nossa cidade ainda é bela.

As margens retificadas no Dilúvio ainda escondem preciosidades. Passo pela tampa de bueiro solta e ela me avisa que começa minha jornada. Mais adiante posso me deliciar com as garças, que teimam em pousar numa espécie de ilha, formada pelo acúmulo de detritos no leito do que chamamos riacho. Ela está ali parada, sem se importar com o fedor que as águas exalam, pena que é assim... A vegetação rasteira que cobre as margens do arroio é encantadora, e algumas árvores debruçam seus galhos em direção ao mesmo, quase que tocando o leito, acenando seus braços verdes para a água morta e poluída. Imagino quem plantou-as e que tipo de construções ali existiam. Talvez os hibiscos da outra margem sejam resquícios de algum jardim onde pessoas se encontravam para beber um refresco. Quem sabe a sombra da bela mangueira não serviu  para abrigar churrascadas ou piqueniques em outros tempos? Consigo imaginar bandos de garotos se divertindo, pendurando-se aos seus galhos para, logo a seguir, ganhar as águas cristalinas e refrescantes de outrora.

Mais adiante observo com tristeza os moradores da margem contrária. Eram bem menos quando comecei a pedalar por ali. Agora improvisaram pequenos abrigos. Imagino quais são as leis que regem tal comunidade. O lixo e o fedor se acumulam mais neste entorno. Restos de objetos, sombrinhas quebradas, comida estragada e até um carrinho de supermercado, tudo vai parar no leito do arroio por ali. É como se a miséria tivesse que deixar sua marca também na paisagem.

Passo pela ponte da João Pessoa, a única no mundo todo que tem árvores plantadas na sua extensão. É bela, com seus detalhes discretos em concreto.

Depois da Ipiranga, entro na cidade baixa. Sua efervescência cultural, sua diversidade de tipos e diversão, tão conhecidos na noite, desaparecem durante o dia, cedendo espaço a escolares, carregadores de água, idosos carregando sacolas. As calçadas não abrigam jovens universitários, mas trabalhadores normais, pessoas que levam o filho à escola e seus cães na petshop... são duas realidades. Quem diria que a vida é tão comum durante o dia. Perto do viaduto,  invariavelmente  sentado sobre a mesma pedra que fica à sombra de um ipê desfolhado, um homem lê seu jornal, alheio ao barulho dos carros que ganham a Perimetral, vindos da Borges. Fico curiosa para saber porque escolheu justo aquele ponto para seu descanso e sesta, talvez a ausência de transeuntes faça daquele lugar o seu refúgio para seu momento de solidão. 

Os carros, ônibus e motos que ameaçam minha integridade física, dão abrigo a pessoas que não dão valor à vida alheia. Buzinam, tiram fininho e cortam a frente sem nenhum pudor ou constrangimento, só o que lhes interessa é chegar ao destino, a qualquer preço. Penso que nossa cultura de deixar tudo para a última hora aperta os horários e faz com que pessoas normais virem bicho quando estão ao volante. Incapazes de raciocinar e de observar a cidade que está viva ao seu redor. Os vidros fechados impedem a aproximação de indesejáveis, mas também os cheiros e os ruídos de nossa cidade.

 Andar de bicicleta  é  uma luta constante contra o perigo, contra o suor, contra as intempéries, mas somente quando pedalo consigo escutar  o canto do Bem-te-vi...

domingo, 11 de novembro de 2012

E quis o destino que minha voz fosse fraca,
antagônica à minha mente forte e sonhadora

Muda e pensante,
levo a vida de poeta
que tudo vê, sente e quase nada fala:
Só escreve...