Eda De Maman

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Local: Porto Alegre, Brazil

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Uma mulher de cabeça arejada



Recentemente li em algum lugar que alguém procurava uma mulher "de cabeça arejada". Devo dizer que olhei-me demoradamente no espelho e resolvi arejar minhas ideias.
Comecei trocando a cor do esmalte. Nenhuma mulher de cabeça arejada fica bem de unhas à francesinha. Não! Mulheres de cabeça arejada usam vermelho intenso como sangue, provocantes e sedutoras ...seguras de sua sexualidade e de seu poder ...
Depois sentei-me na cama e arejei meu corpo. Livrei-me lentamente da camisola fina, da lingerie, da fivela que prendia meus cabelos... de toda e qualquer amarra que pudesse prender um centímetro sequer de minha pele branca.
Respirei fundo e abri minha mente de mulher suburbana.
Primeiro tentei inclinar a cabeça para o lado direito...vai ver assim saía alguma coisa de lá?
Nada...
Para o lado esquerdo???
Nada...
Sacudi-a então, repetidamente: uma, duas, três vezes...
Nada
Girei
Rodei
Nada
Não saiu nada de lá!
Pelo que, presumi: ou estava vazia ou então eu já tinha a cuca arejada de natureza, ou estava com as ideias tão enraizadas que não seria possível tirar nada dali.
De repente saiu da minha cabeça uma coisinha pequena.
Olhei arregalada, assustada... E a tal coisinha também assustou-se!
Peguei uma lente de aumento e observei atentamente: era uma mulherzinha! Muito familiar  até. Olhos castanhos como os meus, cabelos longos, eu podia jurar que era uma ...Uma EDA em miniatura!
Nossa! Inacreditável!
Mas ela estava furiosa. Segurava nas pequenas mãos uma infinidade de objetos que eu não consegui identificar à primeira vista. Mas depois, com um olhar mais demorado fui reconhecendo meus fantasmas de infância, meus medos, minhas inseguranças, meus tabus, todos os grilos, as burradas, tudo lá formando uma montanha enorme aos pés da mulherzinha que saíra de dentro de mim...
Olhei para ela, que batia com o pé direito no chão rapidamente e disse, meio titubeante:
-Oi...
Ela virou-se de lado e fingiu que organizava todo o lixo que estava espalhado.
Fiquei olhando para ela, entre surpresa, apavorada e divertida. Sim...era divertido me ver assim, de fora e tão pequenina, carregando tanta tralha inútil.
A mulherzinha começou a retirar as coisas que lhe atrapalhavam o caminho. E cada objeto que apanhava para colocar dentro da sacolinha em forma de coração ela olhava para mim e me perguntava o que deveria fazer com "aquilo".
E começou o desfile:
Primeiro vieram os amores antigos:"Guardo ou coloco fora?" perguntou-me ela... Coloca fora, é claro - respondi- Mas... e aqueles bilhetinhos que recebi quando era menina? Tão bom saber que alguém gostou um dia de mim daquela forma tão pura e desprendida... Melhor guardar. Vai saber quando a gente precisa de algo assim para levantar a estima?
Depois ela me mostrou as dores de amor...Coloca fora, é lógico- quase gritei- quem vai querer lembrar de coisas tristes?....Mas...se eu colocar fora, esquecerei tudo e repetirei meus erros...melhor guardar!
Traições... idem...
Rancores... idem...
Nossa!
Achei que fosse muito mais simples arejar as ideias, mas não era não...
De repente começam a surgir várias bolinhas. Umas bolinhas estranhas, sem nenhuma serventia e que atrapalhavam muito.
Perguntei assustada para a mulherzinha:
- O que é isso?
Ao que ela me respondeu admirada:
- Não sabes? São os Carlos, oras... Estão aí por que permitistes...
- Carlos?
- Sim, os Carlos... Todos os tolos que te fizeram sofrer na vida. Para eles damos o nome de Carlos. Eles ficam rodando por aí, pois marcaram de uma forma ou de outra as tuas ideias.
Olhei assustada para os Carlos. Eram todos mais ou menos iguais. Faziam os mesmos gestos, falavam as mesmas coisas, só mudavam um pouquinho a aparência: uns eram gordos e carecas, outros eram mais magros. Tinha vários Carlos ali!
- Mas por que Carlos? - perguntei.
- Ah querida, podes dar a eles qualquer nome, mas geralmente ficam conhecidos pelo nome de algum canalha que tenha machucado teus sonhos.
O que fazer com os Carlos? Eram muitos e estavam espalhados pela cama. Pensei em pegá-los e atirá-los no lixo, mas depois olhei-os atentamente e fiquei com pena. De alguma forma os Carlos me ajuadaram a crescer e a perceber que a vida é muito bela se conseguirmos nos manter longe deles. Assim, quando conhecemos um número suficiente de Carlos, estamos preparadas para enfrentar tudo!
Olhei com ternura para tudo o que a mulherzinha me mostrava e naquele momento percebi que não precisava arejar minhas ideias, apenas organizá-las de modo a permitir a entrada de mais gente no pedaço.
Junto com a mulherzinha que carrego dentro de mim, organizei cada gavetinha. Algumas coisas ficaram tão pequenas depois da organização, que sumiram por encanto.  Os Carlos foram catalogados e organizados em caixinhas transparentes, para que eu nunca corresse o risco de não identificar um exemplar à distância.
Cada coisa teve seu devido fim: os grilos de infância, as pendências familiares, as brigas mal resolvidas... tudo!
Um trabalhão enorme para uma mulherzinha tão pequena.
No final da faxina nos olhamos com cumplicidade. Tomamos um chá com bolinhos e a mulherzinha, cansada, pediu-me que a recolocasse novamente dentro da cabeça.
E foi o que fiz...
Depois deitei-me mansamente sobre meus travesseiros e tive o sono mais reparador que alguém pode desejar.
Acordei leve...
Acordei arejada!

Eda de Maman

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Os scripts sociais, ou padrões de conduta preestabelecidos

Hoje fui correr. Eu e duas amigas. Uma longa corrida de quase duas horas. Subidas e descidas, ruas calmas, ruas movimentadas, sol e sombra... cheiros de flores, cheiro de lixo... Não pude deixar de fazer minhas analogias, uma vez que não sou dona de meu pensamento...ele voa sozinho!
A primeira coisa que me ocorreu foi na maravilha de estar viva e poder correr livremente pelas ruas. Fiquei embriagada com esta liberdade e em como este privilégio não é para qualquer pessoa. Há de se ter desprendimento e coragem .
Depois vieram os aromas...ahhh...devo ter um nariz de cachorro perdigueiro ou algo parecido, pois sou viciada nos cheiros da vida... E eles sucederam-se durante o trajeto, cada qual trazendo consigo uma recordação diferente: as acácias em flor lembraram-me minha infância, meio distante já, mas inesquecível. As tardes na fazenda, as cavalgadas e o carro puxado a boi que era guiado pelo Chico, o peão o caseiro, que nos levava até o riacho rodeado de pedras onde costumávamos passar as tardes quentes do verão. As acácias me levaram para este tempo de menina, para a voz do Chico que repetia sem parar: eia Maroto , eia Marinheiro, boi preguiçoso... E no ritmo da corrida lembrei-me da forma como eu me deitava na carroça e abria os olhos cheios de fantasia, procurando formas nas nuvens que brincavam pelo céu. Tempo bom, aquele de menina, sem dores, sem preocupações, sem esperas ...
E os cheiros sucederam-se... cheiro de óleo diesel dos ônibus, cheiro de protetor solar, cheiro de combustível recém saído da bomba, cheiro de corpo suado, cheiro de perfume masculino, cheiro de pessegueiro...Estou viciada no cheiro desta árvore...
A conversa acompanhou boa parte do trajeto... E acabei contando sobre minha espera, e como ela me dói e em como sou impaciente. E as amigas tentaram me advertir a respeito dos scripts socias.
Assim: Uma mulher nunca deve ceder no primeiro encontro, tampouco convidar seu amado para sua casa, deve fazer-se de desinteressada, pois os homens precisam sentir-se conquistadores e etc etc etc
Eia! Tenho feito tudo errado!
Se depender deste tipo de atitudes jamais conquistarei um coração. Sou, como gosto de dizer, selvagem para este tipo de jogo. Não consigo usar estas máscaras, sou avessa a subterfúgios. E como já afirmei em algum poema, não costumo refletir o que os outros procuram, tenho um "quê" de teimosia que me faz ser exatamente como sou...sou um caso para amar ou odiar...
Mas de certa forma minhas amigas têm razão. Acredito que somos constantemente avaliados por padrões de conduta sociais preestabelecidos e se eu fujo a eles , correrei o risco de ser sempre mal avaliada, mal interpretada...
Mas... sigo no meu ritmo e na minha forma de ser. Danem-se os padrões e os scripts! Danem-se os falsos moralismos. Danem-se as pessoas que não conseguem sustentar-se por si mesmas. Danem-se essas regras que só servem para atrapalhar os sentimentos verdadeiros. Nada mais belo do que ser meio criança: natural, verdadeira, meio ingênua, adepta à maravilha de Ser e não fingir... Não vou mudar...haverei de encontrar alguém que ame tanto quanto eu a beleza de viver e a coragem de mostrar cada sentimento, sem medos e sem segredos. Fazendo de cada fato vivido um momento único e inesperado!

Eda De Maman

domingo, 6 de setembro de 2009

Há poucos dias atrás uma amiga falou-me algo que me levou às lágrimas. Estava eu entristecida por algo que havia me ocorrido e ela abraçou-me carinhosamente e disse:"Coraçãozinho puro...tu tens o coraçãozinho puro..."

Não preciso dizer que esta expressão bastou para que eu desabasse num choro incontido. Foram minutos de desabafo. Uma simples palavra que foi capaz de traduzir exatamente minha essência: alguém que crê nas pessoas e que acredita no amor.

Não sei para onde irei; tampouco sei se é bom ser assim, mas digo-lhes : não pretendo mudar minha forma de encarar a vida, porquanto que aos 45 anos mudanças significativas já não são possíveis.

Pergunto-me então: será possível conciliar minha existência com o mundo atual? Não tenho a resposta para tal questionamento, mas penso que hei de encontrar uma alma que consiga ver a riqueza que carrego dentro de mim.

Acredito que a capacidade de amar e doar-se, independe de idade...nascemos com este potencial e o desenvolvemos, ou não...

Alguns julgam-me tola, outros imatura...há os que provavelmente riem de mim ... e a todas essas pessoas eu digo que são seres insensíveis e incapazes de identificar uma alma pura ...
E cada vez que cruzo meu caminho com seres assim, eu sofro...Não sofro necessariamente por mim ou pelas minhas perdas. Sofro por não ter tido a capacidade de tocar-lhes o coração e fazê-los ver que a vida é muito mais bela do que o pequeno horizonte que conseguem vislumbrar... Sofro por que suas almas são pequenas...sofro por que não os consigo fazer amar...

Algumas pessoas me dizem que meu trabalho está aquém das minhas qualidades. A estes responderei: não existe nada mais elevado do que ensinar. Pudera eu ensinar a todos o que é amar e , apesar de todas as amarguras da vida, saber manter o "coraçãozinho
puro" !

Eda